Não deixes, meu menino

Quando és pequeno, ninguém te explica que as pessoas te morrem. Elas vêm residir em nós, fazem-nos pertencer e depois morrem. Quando és pequeno, ninguém te conta que os sonhos te morrem. Eles vêm alojar-se em nós, fazem-nos crer e depois morrem. E é isso que vai doer mais, porque ninguém te avisou que há esses bocados de nós que nos morrem. Ninguém te preparou para essa brutalidade cruel da morte a vir de dentro. E cada pessoa que te morre é como um osso que te arrancam, de dentro para fora. Deixas de ter onde pertencer. E cada sonho que te morre é como um punhal que te atravessam, de dentro para fora. Deixas de ter onde crer. E vai doer tanto, meu menino… oh se vai. Mas não deixes, meu menino, não deixes.

Promete-me essa teimosia persistente e não permitas que te morram. Nem sequer consideres, em momento algum, a inevitabilidade de te morrerem. Traz sempre contigo tudo o que em ti viveu, está bem? Nunca concedas que te morram, ok? Nem as pessoas, nem os sonhos. Abriga-os, dá-lhes de comer e de beber. Acorda-os de manhã, agarra-te a elas e a eles e abraça-os, de fora para dentro. Segura-lhes na mão e brinca, meu menino, brinca. Jura-me essa lealdade eterna a tudo o que te sorri. Nunca deixes que te morram, sim?

Não te cegues. As pessoas vão querer morrer-te. Os sonhos vão querer morrer-te. Mas não chores, meu menino, não chores. Vais viver tanto, meu menino… oh se vais. Porque outra coisa que ninguém nos explica é que, quando és pequeno, és tão grande. A possibilidade é infinita e cresce na planta dos pés. Porque outra coisa que ninguém nos conta é que, quando és pequeno, já és enorme. O mundo é interminável e vive todo na palma das mãos.

naodeixesmeumenino_obohemio

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