A dança da sedução

Sobre o aparente bailado da sedução – eu danço. Primeiro com os olhos fixos, a seguir, com os pés soltos, depois com as mãos coladas e, por fim, com o corpo todo. Só assim vale a pena dançar. Não me leves a mal, embora seja só isso que eu quero – um desvio da rota da santidade para chegarmos ao céu, um mal dos diabos que nos faz tão bem. É nesse ritmo que esta noite balança, tudo o resto é apenas aparência. E aparência não aquece nem alimenta. Não me leves a mal, leva-me, sim, para o mal que sabe tão bem.

Com isto não quero dizer que não aprecio o teu bom gosto que se reflete nesse vestido justo e nesse batom a anunciar o sítio onde quero viver. Aprecio e agradeço o teu cuidado meticuloso em tocar todas as notas desta canção. Gosto, evidentemente, que cuides da tua imagem. Gosto desse vestido que trazes a definir cada curva do teu corpo, claro que sim. Adoro esse sorriso que usas como bala a perfurar-me a carne. Gosto que ponhas um bom batom a realçar cada contorno dos teus lábios. Mas eu quero mais do que uma aparente tentação que não se concretiza, quero mais do que uma palpável aliciação que não se devora. Não quero o embrulho, quero o que está lá dentro. Não quero apenas a música se com ela não vier a musa. Porque nesta dança inebriante da sedução, de nada serve um vestido justo se não acabar no chão do meu quarto. De nada serve um bom batom se não for para marcar a minha pele.

Agora que a orquestra se principia no toque de um olhar, não tenhas dúvidas nenhumas das minhas intenções: esta dança vai passar por todas as divisões da minha casa e terminar quando não houver mais orgasmos para cantar. É que hoje dançamos, certamente. Mas hoje, principalmente, despimo-nos totalmente. Hoje, és tu e eu neste bailado de provocação em passo acelerado, sem tempo a perder na urgência de dois corpos para unir, porque o prazer não tem sala de espera. Hoje, despes tudo o que vestiste antes de saíres de casa. Hoje, tiras tudo o que está a mais. Isso vai da roupa à vergonha. Hoje, dou-te a vida toda num orgasmo. Sem conversa, sem promessas, afundamos a noite em dois corpos suados. Hoje, ensino-te que a felicidade pode estar apenas nas tuas pernas a sufocarem inibições. Hoje, provo os teus lábios enquanto saboreias a minha alma. Hoje, perdes tudo o que julgavas ser, só para que saibas, por fim, a que sabe viver.

error

Gostas desta taberna? Então espalha as palavras ;)