Quem me olha no espelho

Andamos por aí aos tropeções, na pressa de chegar a um lugar qualquer que não seja aquele onde estamos. Andamos por aí escondidos de nós, a vestir o que não somos, porque a única coisa que nos serve é a roupa que o outro vestiu. Andamos por aí como mortos que se esqueceram de morrer, com os olhos fixados no que não temos. Um desejo insaciável de querer o que ainda não tenho para depois deixar de querer no instante imediato, porque preciso de espaço em mim para continuar a desejar tudo o que me falta ter.

É um estado perpétuo de insatisfação e inquietação. Uma cegueira dos sentidos pela vaidade. Uma fome de possuir, de mastigar sem saborear, porque o que quero está sempre fora de mim. Andamos por aí, presos ao que não temos, julgando que assim é que somos livres. Andamos por aí num pânico absoluto de sermos, afinal e somente, o que nos olha no espelho. O grande problema da nossa vida é olharmos para ela como coisa pouca, um espaço incompleto, uma caixa de chocolates já a meio – sempre a meio. E não há terreno mais fértil para a ansiedade do que aquele onde não se colhe chocolate.

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