O passo que tudo conquista

Faltou-me dar o passo, sabes? Aquele que entra para a história. Aquele que se funde com todos os outros. Aquele que faz esquecer os tantos que tiveste de dar antes, o que dissolve o cansaço na fonte da vitória. Aquele que é uma aglomeração de todos aqueles que se consagram no último. O que concretiza, o que vence, o que conquista, o que arrebata.

Faltou-me ansiar mais, querer mais, crer mais, ir mais. Faltou-me, principalmente, isso. Faltou-me ir mais. Ir depois de tudo, saltar o escuro sem medo da ausência de chão. Porque é só quando atravessas o que não vês que consegues ver mais. E faltou-me tanto ver mais, sabes? Faltou-me saber que os abismos na terra existem para que possas tocar o céu. Basta apenas o passo, por vezes o salto, a desavergonhada capacidade de ir. Faltou-me isso. Faltaram-me pernas onde só tive raízes. Faltou-me ser pássaro, se queres que te diga. Mas, se queres que te diga, o que me faltou mesmo foi deixar-me de desculpas, porque até a árvore encontra caminhos nas costas do vento. Faltou-me ser vento, ser folha. Faltou-me mandar as leis da física à merda e voar, isso sim.

Sobretudo, faltou-me voar sobre tudo, sem considerar que a queda quebra a crença de que vou lá chegar, irremediavelmente. Faltou-me sonhar sem remédio, foi isso. Faltou-me cair para levantar. Faltou-me ter a falta de recear. Faltou-me a certeza absoluta de que é preciso chorar quando sangrar e, ainda assim, continuar. Faltou-me ir até ao fundo e descobrir que é lá que se fazem novos mundos. Faltou-me acreditar mais. Faltou-me, sobretudo, confiar, sobre tudo. Porque hoje, finalmente, eu sei que a felicidade que tanto procuras está no passo que não dás.

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