Haverá recomeço

Ainda que os dias te pesem, ainda que as costas te dobrem, não te esqueças que haverá mais um ontem para enterrar. Haverá mais um adormecer para despertar. Haverá mais motivos para erguer do que para ceder. Haverá um novo dia para crescer. Haverá mais amanhã para viver. Lembra-te sempre disso. E que seja isso a única coisa que te lembres. Que seja isso a única coisa que te fique. E que vejas nisso tudo o que te liberte.

Na estrada por onde caminhas, que os teus passos sejam, apenas, certezas do desconhecido. Não te percas de ti, quando procuras encontrar-te nos outros. Sê estranho em cada manhã, inquieto perante a rotina das coisas. Insistente na adição de ti, no acrescento, na soma dos dias. Vive com os teus pés, calça o que és e renasce de novo, e avança para o novo. Leva-te, raios! Ergue-te da noite, estica-te para o dia. Abre a janela da tua evolução. Revoluciona-te! E continua. Repete tudo de novo, para o novo. Não te esqueças: é de novo e para o novo. Mantém-te nessa repetição. Que seja essa a única rotina. Faz dessa a tua única monotonia. A reiteração do novo, novamente. Incessantemente novo.

E não mudes, nunca. Nunca te percas de ti, enquanto procuras os outros. Somos de nós, para nós e os outros que estejam aptos de nós. Lembra-te sempre disso. Lembra-te sempre de te esqueceres de ser o mesmo. Não flutues para o mesmo, não sejas repetição de alguém, a não ser de ti. Ainda que nem de ti o sejas. Não aceites a mudança do que és, muda só o que foste. Sê porque és tu, único na novidade de sê-lo, a cada dia. Lembra-te, és novo, a cada dia. És, novamente, insistentemente tu, de novo.

Promete-me que não sucumbes a quem te quer igual, como uma folha de papel imprimida de normas e regras absurdas. Cortada e limada na guilhotina de todas as convenções moralistas e opressoras que nos querem enterrados no chão. Fotocópia cativa das algemas de um falso decoro que nos atrasa a alma. Num “deixa-te ir” da derrota interna, arrastando-se pela lama dos juízos hipócritas, ditados e seguidos por quem não sabe ser por si. Mas tu sabes. E eu sei-te, como ninguém.

Renova-te. Recicla-te. Transforma-te em ti, para o novo que serás todos os dias. Mesmo que os dias te pesem toneladas, mesmo que as costas te dobrem em dois, mesmo que tudo se parta. Há sempre uma nova estação. Há sempre uma nova chegada. Há sempre um novo amanhã. Lembra-te sempre disso. Fica sempre com isso. Liberta-te sempre com isso. E nunca mudes, sim?

haverarecomeco_obohemio

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