Encontrei-te no tempo

Hoje viajou-me o tempo pelo chão que tremia. Passaram-me todos dias pela retina. Atravessou-se o mundo pela janela da mente e logo, iminente, lembrei-me de uma porta que se abria. Aconteceu-me um sorriso a vestir a perfeição e depois a escravidão do momento. Nasceu uma canção a ecoar nos desfiladeiros do tempo. E, não sei se já reparaste mas, hoje bateu o tempo à porta de casa. Deixei entrar os anos, os meses, as semanas, os dias e as horas, a pingar os rios que nos imergem.

Regressei ao princípio para tentar explicar o tempo. Mas o tempo não se explica, ele passa apenas. E, como o vento nas asas de uma ave, faz tempo que o tempo passa por nós e nos faz levitar. Um tempo a fazer-se de alturas que nos dispersam e não conseguimos agarrar. Fazem-se dias que nos apetece guardar. Criam-se instantes que se querem sequestrar para ficarmos prisioneiros no tempo, cativos a um acaso que por acaso nos encontrou. E apetece voltar… às vezes sempre, sabias?

Hoje, na esquina do tempo, cruzei-me com as horas todas embaladas em cada segundo passado a ver-te atear aquele sorriso e só deu para querer retornar. Só coube a vontade de querer cegar, e depois arder, nessa luz que escondes atrás dos teus lábios. Juro-te que sempre que acendes esse sorriso é como se pegasses no tempo e o fizesses parar. Desejei reviver cada fôlego de respiração plena, com os pulmões em euforia. Apeteceu-me dizer-te que preciso disso mais vezes, como uma planta precisa de sol para crescer e florescer na natureza que se desenha no horizonte do teu rosto.

Mas o tempo passa, sabes? O tempo passa-nos. Ele corre furioso pelos carris, estação a estação, sem parar. E agora que penso nisso, já há demasiado tempo no tempo da porta que se abriu e te descobriu. A garganta hesita quando penso que existiam abraços antes do teu, quando imagino que me admitia ser antes da tua pele. E, agora, escorrega-me o tempo na afronta suprema de considerar a possibilidade da vida depois de ti. A maior maldade do tempo é permitir que os teus braços existam longe dos meus, sabes? A maior insensibilidade do tempo é consentir que o teu corpo viva fora do meu, sem que tu deixes de habitar em mim.

És a demarcação expoente do que fui e do que sou, no friso cronológico que decreta o antes e o depois no meu tempo. Antes nada, depois tu, e eu, por inerência da tua pulsação em mim. Por mais que o tempo insista nesta teimosia de continuar a fugir contigo, estou em crer que serás imortal atrás dos meus olhos. E, só por isso, agradeço ao tempo ter-me oferecido tempo para te encontrar. Agora faz-me um favor, pega-me no tempo e fá-lo eterno em cada segundo que me dilato de amor ao ver-te chegar.

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