Com o vício nas veias

Tenho sede. Foi o que disseste antes dos lábios. Tenho fome. Foi o que sorriste antes dos corpos. E, assim, se entornou o prazer pela pele que aprisionava a vontade crua de possuir cada milímetro de eterno. Sei que estou rendido, quando a única salvação são as tuas pernas a sufocarem-me a urgência da carne. E morro, a cada vez que te vivo. E vivo, a cada vez que em ti me morro. Porque, caso não saibas, onde tu começas é onde começa o paraíso, forjado nas caldeiras do diabo.

És pecado. És vício. És minha, quando te esqueces das horas e as deixas pousar nos teus olhos. Sou teu, quando deixo a vergonha nua e te entrego todos os orgasmos que deslizam pelas tuas pernas tremulas, hesitantes entre o céu e a terra, a destilar um ímpeto de tentação. E acontecem gemidos a escorrer pelo chão, pela parede, pelo vão da escada. E tropeço em notas de magia a cada segundo de ousadia, numa sinfonia que interrompe a mortal monotonia.

Confesso provar em excesso deste vício de amar, onde o único pecado é não pecar. Nunca se peca por excesso, mas sim por defeito. Peca-se por não se pecar mais, peca-se porque fugimos ao encontro entre corpos e almas. Se assim não for, então sou pecador sem nexo sempre que me entrego ao excesso de amar sem complexo. E dou-me à overdose de amar sem noção do perigo, a cada vez que em mim te sinto, em cada explosão de desejo no meu ouvido.

Desculpa se o quanto te quero te magoa, mas só sei amar com força. Só sei embriagar-me na tua respiração e nessas tuas pernas que transportam o veneno das almas. Só sei amar se for para consumir tudo de uma vez, como se não houvesse amanhã. É que chegará o dia em que não há. Só sei consumir amor à dentada, numa fúria esfomeada, e ignorar completamente a dose máxima recomendada. É que se o amor é uma droga, meu amor, parece-me óbvio que deverá ser mais ópio e menos morfina. E se for para morrer envenenado, que seja de amor a minha sina, que seja esse o resultado da autópsia.

E é por isso que agarro firme a tua boca na minha, como se a noite só acontecesse quando os teus lábios se acendem nos meus. Como se a minha vida dependesse dos teus beijos. E depende. E acontecem espasmos em cascata. E as tuas pernas vibram na dança do sexo, num dilúvio de adrenalina que me aperta o peito e o tempo e o fazem parar. Caso não saibas, foi nas tuas pernas que se fez o centro do mundo. E é nessas tuas pernas, onde o tempo pára, que avanço eu e tu, a sede e a fome. Haverá alguma forma de viver sem saciar a dependência da alma? Afinal de contas, o corpo é apenas a estrada que nos leva até ao que somos e o amor é um vício intravenoso que me cresce nas veias.

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