Amar não vem nos livros

Não me ensines como amar, amarei como sei, à minha maneira. Pode não ser grande coisa, pode ser uma merda. Será. Mas deixará de ser amor, só porque não se enquadra nessas normas e regras cuspidas pelos outros? Quero lá saber do que os outros dizem, muito menos do que pensam, se não são eles que o sentem. Pois se o meu amor não é dos outros, nem são os outros que o sentem, de que me serve servir amor embalado? De que vale um amor contido, certinho e conforme se o amor só serve se for servido desregrado? O amor é uma loucura e nenhum louco tem regra.

Nisto do amor, acontece o mesmo que às opiniões, cada um tem a sua. E nisto do amor cada um sente o seu. E eu nunca fui bom a amar como os outros, nem tão pouco fui capaz de amar pelos outros. Talvez porque nunca fui como eles. Se nunca fui os outros, como poderia amar como os outros? É por isso que o amor não se enquadra, não se aprisiona. Ele corre livre, de ti, de mim, de tudo. O amor é livre. Como qualquer arte, existe segundo a interpretação de cada um. Afinal de contas, o quadro já era quadro muito antes da moldura.

Se me vens de dedo em riste ditar os mais conceituados estudiosos da matéria, falar-me dessas teorias todas que dizes universais, digo-te então, que nisto do amor não há teorias, porque isto do amor não vem nos livros. Não o encontras a gastar-se nos manuais da escola. Não. Nem sequer se fecha nas páginas de um romance qualquer. Ele vem nos parágrafos da vida. Só precisas saber ler aquilo que só se respira. E isso talvez seja o mais difícil, e por isso talvez seja tão difícil. Porque, afinal de contas, o amor é porque existe e existe porque se respira. Se há coisa que aprendi com o amor é que não é nas palavras gastas que o encontras. Ele está em tudo e mora em nada, exceto no silêncio de dois corpos que se querem.

Se há coisa que aprendi com o amor, é que nunca se ama igual ao que já se amou. O amor é sempre outro amar diferente. É esse o mistério e a aventura que nos transtorna e transborda. Se há coisa que aprendi com o amor é que é sempre diferente, é sempre novo. É sempre outro amar singular na pluralidade dos que amam. Se há coisa que aprendi com o amor é que o amor é sempre único. Não há sumários, lições ou dicionários. Não há exames finais, nem pautas para os melhores alunos. Não. O amor é sempre distinto, como as arritmias de um coração que dança a melodia de quem ama. É sempre único, como um  olhar que se cruzou na esquina da vida. É sempre novo, como uma palavra que esqueceu o significado. Assim se ama, assim se vive. Uma das coisas que aprendi com o amor é que o amor não se ensina, pratica-se.

E, no final disto tudo, pode até ser que o amor nem sequer exista. Pode ser uma mentira, uma criatura imaginária criada pelos poetas e loucos. Não nego essa possibilidade. Isto do amor pode ser uma mentira, mas é a única mentira que vale a pena praticar. E, afinal de contas, isto do amor é a única mentira em que vale a pena acreditar.

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